A Igreja do Novo Testamento
é o objeto permanente do cuidado de Deus sobre ela, sendo chamada para o
progresso, extensão e consolidação, a sua auto-edificação, representada como um
edifício, como santuário de Deus.
A imagem de edificação é predominante nas
cartas de Paulo, inclusa em assuntos sobre a prática e a organização da Igreja.
Seu conceito de habitação e edificação qualifica a Igreja no sentido
histórico-redentor e escatológico como templo de Deus, esclarecendo que a
Igreja, que pertence a Cristo, é o santuário do Senhor, no qual habita o
Espírito de Cristo.
Da
mesma forma, Paulo emprega o crescimento ou aumento da Igreja, num claro
contexto onde a edificação é predominante. A palavra edificação aparece com
freqüência no Novo Testamento, que caracteriza a Igreja como “santuário”, como
“casa”, o “edifício” de Deus e essas representações são uma extensão do
significado de Israel no Antigo Testamento, a obra contínua de Deus em seu povo
(Romanos 14:19,20), aqueles que são seu santuário e habitação. Vemos isso nas
promessas proféticas de restauração do povo que estava no exílio, da
reedificação de suas cidades e do templo, como também da reconstrução das casas
e dos muros destruídos.
Paulo, no Novo Testamento,
amplia esse conceito, aplicado agora à Igreja cristã, que é edifício de Deus,
sua casa, seu baluarte da verdade, sendo os crentes a família de Deus e os
presbíteros e apóstolos despenseiros de Deus. Assim, Paulo escreve em suas
cartas várias expressões usadas para descrever a construção de uma casa, vemos
isso em Romanos 15:20, onde ele se autodenomina o construtor que lança o
fundamento sobre o qual outros edificam, como outro exemplo temos Cristo como
fundamento (1 Coríntios 3:11 e Colossenses 2:7), já em outras passagens os
profetas são chamados de fundamento (Efésios 2:20).
Pertencer ao edifício
torna-se algo dinâmico, o santuário é o ponto de partida, mas também o
objetivo. Os conceitos de Igreja como corpo de Cristo estão intimamente ligados
com casa e habitação de Deus, se todos estão em Cristo, são edificados
juntamente a fim de pertencerem à casa onde o Espírito de Deus habita.
A casa de Deus cresce, como
um organismo vivo (Efésios 2:21), e também é edificado como um edifício
(Efésios 4:12, 16), essa edificação acontece em Cristo, o fundamento que
outrora foi lançado (1 Coríntios 3:10, 11). Ainda segundo Efésios 2:21, em
Cristo, todo edifício bem ajustado, cresce para santuário dedicado ao Senhor.
Para que ocorra essa
edificação, Deus concede dons e poderes, como vários tipos de ministérios cujo
objetivo é o avanço da edificação. A reunião da Igreja serve para uma
edificação mútua e proclamação da palavra de Deus.
Essa
obra redentora contínua e de consumação da parte de Deus, objetiva tanto em
trazer pra dentro os que estão fora (Romanos 15:20) como no fortalecimento e
aperfeiçoamento de todos os que em Cristo, pertencem agora à Igreja.
A
extensão e o progresso da Igreja, num sentido qualitativo bem como geográfico,
são dentro da linha de pensamento de Paulo, uma das características e condições
essenciais da Igreja no tempo entre a ascensão de Cristo e sua manifestação
futura, e a partir disso, concluímos que a edificação extensiva está ligada ao
contexto histórico-redentor da edificação divina, com o chamado missionário da
Igreja. O tema principal do pensamento de Paulo é o avanço da proclamação do
evangelho a todas as nações (Rm 1:16; 3:22), o princípio da catolicidade da
Igreja (Gálatas 3:28), envolvendo a Igreja que já foi salva nessa obra
missionária a se despertar para uma atitude missionária.

A postura missionária da
Igreja está ligada à santificação da vida da Igreja. Toda a vida da Igreja deve
ser tal que o adversário seja envergonhado não tendo indignidade nenhuma que
dizer a nosso respeito (Tito 2:8), a fé da Igreja deve estar em conformidade
com o Senhor, tendo uma vida digna dele (Colossenses 1:10) e do evangelho de
Cristo (Filipenses 1:27).
Os dons de Cristo para sua
Igreja servem para edificar seu corpo, e o apóstolo diz o seguinte destino:
“até que todos cheguemos à unidade da fé e todo pleno conhecimento do Filho de
Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de
Cristo”(Efésios 4:13). Assim, todo o processo de edificação está voltado para a
plenitude da varonilidade e maturidade da Igreja. Se olharmos de perto, o que
Paulo entende por esses termos, vemos que:
1) A
edificação da Igreja é seu estabelecimento em Cristo, da certeza que ela pode e
deve, cada vez mais, lançar mão da realidade de que Cristo é seu fundamento e
fonte de vida. Tendo recebido e aprendido de Cristo (Colossenses 2:6; Efésios
4:20,21), ela deve andar e habitar nele.
2) Estar
enraizado e alicerçado em Cristo não significa uma condição estática, mas algo
progressivo a partir da raiz, não pensando numa extensão primeiramente
quantitativa, mas numa edificação e num crescimento qualitativos.
3) O
amor e a unidade servem como prova de maturidade quanto de conhecimento. A
verdade deve ser praticada no amor e é só desse modo que ocorre o crescimento
(Efésios 4:15). O amor é o segredo da edificação (1 Coríntios 8:1; Romanos
14:15), entre todos os dons ele é sobremodo excelente (1 Coríntios 13),
constitui o vínculo da perfeição da Igreja (Colossenses 3:14).
“Dom” é tudo o que o
Espírito deseja usar e empregar para equipar a Igreja, aquilo que pode servir de
instrução e admoestação e para a ministração mútua. Porquanto, todos os dons
foram colocados a serviço do corpo de Cristo, com o objetivo final de servir e
glorificar o próprio Deus em Cristo. Não apenas os dons e as pessoas que os
receberam dizem respeito à edificação da Igreja, mas também a observação de uma
certa ordem e o reconhecimento de uma certa lei na Igreja. Tudo isso serve para
induzir a Igreja a preservar seu próprio caráter, para fazer com que viva unida
em ordem e harmonia para conduzi-la a um serviço distintivo e responsável a
Deus como comunidade, para protegê-la do erro e da divisão.
No que se refere ao culto,
recebemos de Paulo informações detalhadas nas epístolas, com instruções sobre a
constante proclamação da Palavra na assembléia da Igreja, em que sua existência
é dependente da preservação da pregação do evangelho. Além da Palavra de Deus
sendo proclamada, Paulo fala em mais detalhes da observação da Ceia do Senhor,
sobre a administração do batismo servindo como incorporação na Igreja; e
encontramos ainda Paulo relatar sobre entoar salmos hinos e cânticos
espirituais como um elemento das assembléias.
A Igreja é estimulada a
imitar os apóstolos e a Cristo, e através de sua conduta, levar outros à
salvação, tendo uma posição missionária não apenas em palavras, mas, acima de
tudo, em boas obras, testemunhando o evangelho em palavras e atos, direta ou
indiretamente. Os motivos mais profundos para isso é que a Igreja está incluída
na obra divina de abrangência absoluta em Jesus Cristo. O objetivo final não é
a Igreja em si, nem seu número de membros ou prestígio, mas a revelação
escatológica em Cristo, da qual a Igreja é a portadora da glória de Cristo (Efésios
1:23; 4:13,16). Tudo isso é pra glória de Deus, porque dele, por ele, por meio
dele são todas as coisas.
Joelma do Carmo, Maio/2014, baseada em: Teologia do Apóstolo Paulo -
Ridderbos, Herman - Cultura Cristã, 2004